Faz hoje 2 anos que iniciei este blog. Comecei-o pela necessidade veemente de manifestar a minha perplexidade e revolta pelo ataque americano ao Iraque. Então, como agora, não havia nenhuma justificação para aquele ataque. O atacante sempre o soube mas forjou uma. Parecia-me que estava toda a gente resignada, comunicação social incluída, a aceitar o que o poderoso tiranete americano decidisse. Curvavam-se à sua força. Parecia-me inacreditável que não se levantasse um coro de protesto mundial. Parecia-me inacreditável que a comunicação social se «embebesse» (com a notável excepção de Carlos Fino), nas forças que, contra toda a ética, invadiam um país soberano, destruíam as suas infra-estruturas e matavam os seus habitantes. Assisti às transmissões da invasão nas televisões internacionais onde era evidente a matança gratuita de transeuntes. A força anda, geralmente, de braço dado com atitudes discricionárias, quando não corruptas, prepotentes ou criminosas.
Estava disposto até a pagar alguma coisa para criar um blog. Quando percebi que era grátis e tão fácil, entusiasmei-me. Abria-se-me esta janela que, se não muda o mundo, liberta a minha voz. Nunca pensei escrever tanto. Já vou com mais de 500 posts. Orgulho-me da maior parte deles, independentemente do êxito ou da falta dele que tenham obtido. Ando pelas 10.000 visitas, o que pode significar bem pouco. Não há dúvida que, mais que qualquer outro feed-back, o que mais ilumina o ego são os comentários.
A princípio debitava supostas notícias de planetas longínquos onde aconteciam factos em tudo idênticos aos que acontecem na Terra. Colocava os factos terrestres lá longe, para me evitar alguma ameaça judicial neste planeta. Ou então alterava-os no sentido de dizer que lá longe aconteceram maroteiras, mas tiveram um tratamento diferente. Por exemplo, num planeta distante o Bush de lá invadia um país soberano sem justificação mas a comunidade internacional perseguia-o até conseguir a sua destituição e prisão.
Depois, a grande exigência em imaginação e o desejo de enfatizar o desagrado levaram-me para posts mais directos. Entretanto fui explorando posts doutra natureza que me têm dado muito gozo e um maior traquejo de escrita.
O aspecto visual do blog manteve-se sempe muito básico, mas fui aprendendo algumas coisas: instalar uma caixa de comentários, adiconar imagens e música. Aprendi uns rudimentos de html: significado e uso de algumas palavras. Aprendi a criar gifs. Quase tudo por exploração própria.
Tive curiosidade de conhecer outros aventureiros dos blogs e fui a 3 jantares. Tirando meia dúzia de adoráveis excepções os bloguistas são pessoas tão pacatas como eu, independentemente do brilho do que escrevem nos respectivos blogs.
O balanço é positivo – o blog é para continuar. Infelizmente, os tempos vão difíceis e a possibilidade de se ser perseguido por discordar da guerra do Iraque já esteve mais longe. Veja-se o que está a acontecer em Inglaterra onde se pretende perseguir quem «apoie o terrorismo». E à medida que a crispação da guerra aumentar, maior será a tentação de calar toda a contestação, que facilmente pode ser apodada de apoio ao terrorismo. E é de crer que as acções terroristas em países ocidentais vão continuar a acontecer, tanto pela fragilidade de certos aspectos das nossas sociedades, como pela continuação dos impasses que levaram a este estado de coisas: ocupação israelita do país palestiniano; ocupação americana de inúmeros países muçulmanos – Arábia Saudita, Iraque, Afeganistão. (Vislumbra-se agora uma esperança, mais uma, de se trilhar finalmente a via que pode levar, a médio prazo, ao fim do conflito no Próximo Orinte, pela descolonização da faixa de Gaza)
No entanto, a maior parte dos meus posts nem fala da guerra. Há mais mundo para lá do Iraque.
Apesar dos possíveis perigos, o mundo da expressão e consequente interacção na Internet é inestimável.