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Universos Assimétricos

Uma História de Agressão

25.9.08

Best of... Setembro de 2007 


Roma



Este conjunto escultórico é do magistral Bernini e encontra-se numa pequena igreja de Roma. Chama-se O êxtase de Sta. Teresa (1647-1652) e representa o episódio de amor místico experimentado por Santa Teresa de Ávila, também conhecido por «Transverberação de Sta. Teresa». Foi a própria que relatou o seguinte:

«Ao meu lado esquerdo apareceu um anjo em forma corporal. Não era alto mas baixo e muito belo. E a sua face estava tão afogueada (…). Vi na sua mão um longo dardo de ouro, na ponta do qual julguei ver uma pequena chama. Pareceu-me que o fazia entrar de tempos a tempos no meu coração e que ele me perfurava até ao fundo das entranhas; quando o retirava, parecia-me que as arrancava também e me deixava toda abrasada com um grande amor de Deus. A dor era tão grande que me fazia gemer e, no entanto, a doçura desta dor excessiva era tal, que era impossível querer vê-la terminada, e a alma já não se contentava senão com Deus. A dor não era física, mas espiritual, se bem que o corpo aí tivesse a sua parte. Era uma tão doce carícia de amor entre a alma e Deus (…)».

Como a muitos analistas contemporâneos, não escapou a Bernini a vertente do amor sensual aliado ao amor místico. É bem evidente o abandono físico da freira perante o anjo, como o abandono da mulher excitada perante o homem amado. O rosto do anjo reflecte aquela doce alegria que qualquer homem sente no momento anterior à posse da mulher rendida. O dardo não pode ser mais simbólico na sua rigidez fálica e na sua ponta penetrante. O gesto delicado da mão esquerda do anjo a levantar o hábito descomposto da freira, como quem afasta uma última peça de roupa íntima, eleva a sensualidade do conjunto a um nível nunca esperado num altar.
Mas que melhor lugar para celebrar a experiência transcendente e sublime de um orgasmo?

posted by perplexo  # 00:55
Comments:
Gosto dessa verdade que descobriste...
 
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23.9.08

Sem ética e sem vergonha, mas com uma bela figura 


Sou assinante da Visão há vários anos. Por isso aqui vêem referências frequentes a coisas nela escritas. Uma vez zanguei-me – creio que foi pelo sistema de pagamento da assinatura – e comprei outra durante umas semanas: acho que foi a Sábado. A quantidade de erros ortográficos ou de gralhas fez-me recuar rapidamente. Não é que esta esteja imune a eles. É o caso, nesta semana, nas crónicas de Pedro Norton e Áurea Sampaio, que leio sempre com gosto, como excelentes articulistas, que são. No melhor pano cai a nódoa. Neste caso, nódoas quase imperceptíveis: Áurea fala em «banqueiros sediados na mais famosa praça financeira do planeta», em vez de «sedeados», de sede; Pedro fala de «um discurso sobre o creacionismo», em vez de «criacionismo», de criação.

Mas aonde eu queria chegar era a outra classificação dada por Pedro ao candidato republicano (conservador) americano, McCain: «Ex-herói da guerra do Vietname».
O que é «isto»? É um tipo que entrou noutro país de armas na mão e andou aos tiros aos seus habitantes. Possivelmente, matou alguns. Correu-lhe mal a gracinha, de modo que foi apanhado e preso. Como merecem todos os outros que entram num país alheio e disparam sobre os seus habitantes.

McCain escolheu para sua vice uma ultra-conservadora que parece querer fazer recuar a civilização ao tempo da «boa e puritana sociedade rural» americana que tão bons alienados tem produzido. Tela-á McCain escolhido por ser tão primitiva? Penso que a escolheu por ser uma cara relativamente bonita, que quase foi miss Alasca. Aquela sociedade vive da propaganda e da imagem. Prefere pôr no comando um actor, que outra figura cuja cara ninguém conhece dos écrans. Foi assim com Reagan, Clint Eastwood e Schwarzenegger.
E é gente desta que depois invade países e condiciona a vida de cada um de nós. Merda!

Comments:
Esta entrada merece-me duas observações:
À uma, a expressão "ex-heroi". Porquê "ex"? Terá feito algo, no seu próprio país, que o tenha feito "desmerecer" a classificação? Para todos os efeitos, os actos ficam para com quem os pratica, ainda que as consequências para os demais.
À outra: "quem com ferros mata...!"
"Tela-à"? Gralha tipográfica? Erro do teclado? Ou falamos de "tela" de pintura?
A menos que seja a "tela de projecção", o que fará sentido. É que a figura em causa foi violenta e rápidamente projectada do quase anonimato para o estrelato mundial.
Só lhe falta mesmo ter andado nas telas do cinema, como o outro cowboy de faz-de-conta.
 
Tens razão. Eu deveria ter escrito «Tê-la-á» e não como escrevi nem como escreveste. É muito mau darmos erros quando criticamos os outros por erros do mesmo tipo, como eu estava a fazer.

perplexo
 
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18.9.08

Um som terrível no escuro 


Nesse Setembro de 75, dois jovens portugueses, colegas de profissão, aproveitavam as férias e um Dyane comprado há pouco para espraiarem a liberdade por paragens além-fronteiras. Levavam uma tenda canadiana e acampavam onde calhava. Viajavam ao sabor dos acontecimentos, confiados nas benevolências do acaso.

Em Vitória, já país basco, a notícia do dia era a morte de mais um «carabinero». Pressentindo a morte iminente de Franco, os separatistas da ETA intensificavam o número de atentados.

Petiscaram num bar e voltaram à estrada procurando um local para acampar. Uns quilómetros à frente, encontraram um terreno plano ao lado da estrada e entraram. Ainda de faróis acesos e motor a trabalhar, foram rapidamente cercados por vários guardas que iam a passar em dois jipes. Tentaram explicar-se em espanhol, mas, porque falassem suficientemente bem, porque a matrícula começava pelas mesmas letras que as de Burgos, ou pela ideia apetecível aos militares de que tinham apanhado dois terroristas, não estava a ser fácil convencê-los da origem lisboeta dos intrusos.

Nisto, chegaram mais guardas comandados por um graduado. Estes, nem dúvidas tiveram. Ao verem aquele aparato, saltaram dos jipes em atitude de grande sanha bélica e, sem darem tempo a qualquer explicação, gritaram que os suspeitos saíssem do carro. Tensos. Os jovens saíram, ofuscados pela luz forte dos faróis, para logo ouvirem ordens de «manos en el aire!», quase abafadas pelo matraquear metálico de muitas culatras puxadas atrás.

Quem vos conta isto levantou as mãos lentamente, virou-se e apoiou-as no carro, rodando o rosto para o lado contrário ao dos guardas, para que nem o olhar pudesse fornecer qualquer pretexto ao nervosismo revanchista dos carabineiros. Durante uma eternidade de segundos, esperou ser trespassado, senão por um sem-número de balas à queima-roupa, com certeza por aquela que só obedece ao diabo e que é disparada até pelas espingardas descarregadas.

Comments:
A dúvida está em saber quem seria o outro.
 
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4.9.08

A raiz do mal 


Há bocado, fazendo zapping, dei com a convenção dos republicanos americanos na CNN. A iniciar os trabalhos do dia, o que é que eles fizeram? Rezaram uma oração de abertura...
É incrível, o primitivismo intelectual daquela gente!

A religião é a base do ódio ao outro que eles tão bem cultivam. É uma teoria globalizante que lhes diz que o mundo, com todos os seres, foi criado por uma entidade a que chamam deus, entidade essa que os ama a eles mais que aos outros, tanto, que poderá ser seduzida a destruir outros seres humanos que tenham diferendos com eles. Nestes próprios pressupostos da ética discriminatória de deus está a prova da inverosimilhança da teoria.

Imaginem o que pode gente desta fazer ao mundo!

Comments:
Pedindo antecipadas desculpas pela “invasão” e alguma usurpação de espaço, gostaríamos de deixar o convite para uma visita a este Espaço que irá agitar as águas da Passividade Portuguesa...
 
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