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De vez em quando, gosto de escolher uma povoação afastada de Lisboa e ir lá passar o fim-de-semana. Há uma quantidade de povoações por esse país fora que me despertam curiosidade, quer porque passei por lá alguma vez de fugida e me pareceram interessantes ou por algum outro aspecto mais obscuro como a sonoridade do nome ou a localização. Mas não faço isso com tanta frequência como gostava.
Este fim-de-semana calhou, felizmente, a vez de Serpa. Além da esperada calma, desfrutei de sabores tão pouco habituais em Lisboa como:
- Sopa de Cação
- Carne de Borrego frita em Azeite
- Espargos bravos com Linguiça e Ovos mexidos
- Pezinhos de Borrego estufados
- Cozido de Grão e Carne de Vaca
sempre regados com vinho de Pias. E de sobremesas, Siricaia, Pão de Rala e Queijadas de Requeijão. Não provei lá o Queijo de Serpa mas comprei para comer cá em casa.
É relaxante passear pelas suas ruas intra-muros onde se ouve pouco mais que os sons dos passos e as vozes das pessoas ou subir à torre do Castelo e olhar para longe, com o verde a perder de vista.
No Castelo está alojado um Museu de Arqueologia em vias de reorganização.
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Um outro museu que se vê com agrado é o Museu Etnográfico. Tem um bom recheio de objectos e instrumentos de feitura artesanal antiga para servir as várias actividades económicas da zona e das ferramentas que ajudavam a produzir aqueles objectos.
A organização das salas é orientada para cada um dos ofícios tradicionais representados: Abegão (Carpinteiro de carros e outras ferramentas agrícolas), Albardeiro, Cadeireiro, Carpinteiro, Cesteiro, Costureira/Alfaiate, Ferrador, Ferreiro, Latoeiro, Oleiro, Rouparia (Queijaria) e Sapateiro. Alguns destes ofícios forneciam produtos para mais que uma actividade económica.

Não sei qual é a viabilidade futura das artes tradicionais, mas soube que Serpa tem uma Escola que resultou da fusão duma Escola de Artes e Ofícios Tradicionais com uma Escola Profissional de Agricultura. Ministra cursos técnicos de Gestão Agrícola, Indústrias Agro-alimentares, Construção Civil tradicional, Património Cultural, Cerâmica Artística, Fabrico de Queijo, Agro-florestal e Turismo Rural.
Na rua, dei com uma porta cujas almofadas de madeira têm altos-relevos. Houve um artista que talhou tudo aquilo. Reparem na quantidade de instrumentos agrícolas que estão representados.
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É a porta do antigo Grémio da Lavoura. (Parece-me que agora é a sede da Cooperativa). Mais vestígios de outros tempos se vão encontrando, como este registo fotográfico de trabalhadores agrícolas e um provável capataz.
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Existe em Serpa um inesperado Museu do Relógio com 1600 peças todas movidas a corda, algumas muito curiosas, como relógios para controlar o tempo de passeio de coche ou este em faiança com inspiração no
Angelus de Millet.
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Ainda relacionado com relógios queria assinalar que um relógio de torre, que bate as horas vibrantemente 2 vezes a cada hora, se cala entre as 10 da noite e as 7 da manhã. Alguém teve a preocupação de deixar descansar os Serpenses, o que é de louvar.
Ainda houve tempo para dar um salto ao Pulo do Lobo que o tempo estava solarengo e regressar calmo e refeito.
Lei do Património Cultural Português (Lei nº 13/85)
- «O património cultural português é constituído por todos os bens materiais e imateriais que, pelo seu reconhecido valor próprio, devam ser considerados como de interesse relevante para a permanência e identidade da cultura portuguesa através do tempo».
- «É direito e dever de todos os cidadãos preservar, defender e valorizar o património cultural».