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Universos Assimétricos

Uma História de Agressão

6.11.06

Os ratos 


Estive fora estes dias. Estava a precisar de me afastar para um local sossegado com a minha companheira, nem que fosse só um fim-de-semana. Um amigo meu emprestou-nos uma casa na província, no meio do campo. Mas avisou-me:
- Olha que é capaz de lá haver ratos! Se houver, espalha umas pastilhas que estão numa caixa metálica no roupeiro do quarto.

Lá fomos. O sítio é lindíssimo, a casa é antiga com o encanto das casas tradicionais mas, realmente, está infestada de ratos. Um armário da cozinha estava cheio de caganitas e restos de embalagens de víveres que o meu amigo lá teria deixado: pacotes de sumos, garrafas plásticas de refrigerantes, caixas de flocos. Mesmo as garrafas de óleo e vinagre tinham sido atacadas, assim como os rótulos das garrafas de vinho e cerveja. O aspecto da cozinha era desolador.

Procurei imediatamente o raticida e pu-lo à mão. Limpámos o melhor que pudemos a lixarada no armário e à noite, antes de adormecer, distribuí uma boa dose de pastilhas pelos cantos da cozinha, com um sentimento de rancor prestes a ser vingado.
De noite, uma vez que acordei, apercebi-me perfeitamente de um restolhar na cozinha. Virei-me para o outro lado com um sorriso consolado.

Ao romper do dia, acordei sobressaltado. Ouviam-se guinchos, correrias, ruídos vários vindos do forro da casa. Era um chinfrim enorme. Parecia que um bando de gatos perseguia os ratos, numa batalha interminável. Não parecia nada um agonizar progressivamente debilitante. Parecia até que o reboliço aumentava.

A minha curiosidade não me deixou continuar na cama. Como havia um alçapão no tecto do quarto, fui buscar um escadote e, um pouco receoso, espreitei. O que vi não pode ser transmitido por palavras. Uma dezena de ratos copulava freneticamente num desespero alucinado. Corriam. Rebolavam. Saltavam. Trocavam continuamente de parceiro. Formavam-se mesmo molhos de três ou quatro em tentativas de cópulas improváveis. No soalho jaziam já uns quatro, mortos por exaustão.

A explicação de tão macabro cenário atingiu-me então brutalmente. Encolhi-me de terror adivinhando a terrível estupidez da minha troca. Do alto do escadote olhei para a mesa-de-cabeceira. Lá estava uma barrinha azul de raticida pronta a ser tomada, se não fosse a enxaqueca providencial da minha companheira!

posted by perplexo  # 22:39
Comments:
Mas descobriste que a melhor maneira de matar ratos é dar-lhes uma dose reforçada de afrodisíaco.
Já pensaste em registar a patente?
Um abraço. Augusto
 
E que ta tal usar do mesmo remédio naquela casa cheia de ratos, ali ao fundo da rua de S. Bento?
Os donos do edifício - nós - agradeciamos certamente!
 
Isto é mesmo teu !!! :-))))))
Adorei ! E os ratitos, então ... nem se fala! ao menos morreram felizes !!
Beijocas
 
:))
 
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