Perante uma obra de arte, cada observador faz dela uma leitura diferente, o que atesta a multiplicidade de sentidos que as obras de arte, geralmente, têm, mas que também reflecte a diversidade de cultura, de aspirações e de concepção do mundo de cada observador.
Perante o monumento de João Cutileiro colocado no alto do Parque Eduardo VII, muita coisa já se disse. Muitas observações esboçam um sorriso condescendente pela marotice que a escultura parece representar, outras mostram revolta pela ordinarice que lá lêem, ou pela boçalização dum acontecimento com a pureza que é atribuída ao 25 de Abril.
O que o artista quis transmitir, não sei. O que eu vejo é uma crítica violenta e desencantada ao processo começado em 25 de Abril.
Todos falam do pénis, do pirilau, do falo. Eu também vejo um membro masculino, mas tão frouxo, tão impotente, tão pequeno, que mais se deve falar em pilinha. Não vejo um erecto e túrgido símbolo masculino pronto a lançar um jorro de sémen fertilizador. Vejo uma erecção diminuta, que mal sai do escroto, sustentada artificialmente por espeques, escorrendo uma aguadilha. Talvez seja mijo, o que podia configurar a leitura de que o 25 de Abril não passou de «tesão do mijo».
Em frente está um cravo. Parece um ninho de cegonha, mas é um cravo, sem dúvida: tem um cálice verde e pétalas. Mas são pétalas que foram esmagadas a partir de cima. O cravo foi esmagado. (Regado a mijo também não ia longe).
O monumento implantou-se no local onde existia um pequeno pedestal. O pedestal foi semi-desmoronado para ilustrar a velha ordem que o 25 de Abril queria derrubar.
O que o 25 de Abril queria construir está ilustrado por duas elegantes e pouco pretensiosas colunas, mas como se vê, foram quebradas durante a construção.
Todo o monumento se lê como: escombros. O 25 de Abril não teve tempo para construir um novo edifício nacional ou quem liderava não teve tomates, não teve vontade, não teve pujança eréctil para levar a Revolução mais longe. O cravo foi esmagado, as colunas partidas. De antigo, só se derrubou um pequeno pedestal.
Sobranceiros, lá se mantêm intactos os majestosos pilares do Estado Novo, poderosos, eternos!
agosto 2003 setembro 2003 outubro 2003 novembro 2003 dezembro 2003 janeiro 2004 fevereiro 2004 março 2004 abril 2004 maio 2004 junho 2004 julho 2004 agosto 2004 setembro 2004 outubro 2004 novembro 2004 dezembro 2004 janeiro 2005 fevereiro 2005 março 2005 abril 2005 maio 2005 junho 2005 julho 2005 agosto 2005 setembro 2005 outubro 2005 novembro 2005 dezembro 2005 janeiro 2006 fevereiro 2006 março 2006 abril 2006 maio 2006 junho 2006 julho 2006 agosto 2006 setembro 2006 outubro 2006 novembro 2006 dezembro 2006 janeiro 2007 fevereiro 2007 março 2007 abril 2007 maio 2007 junho 2007 julho 2007 agosto 2007 setembro 2007 outubro 2007 novembro 2007 dezembro 2007 janeiro 2008 fevereiro 2008 março 2008 abril 2008 maio 2008 junho 2008 julho 2008 agosto 2008 setembro 2008 outubro 2008 novembro 2008 dezembro 2008 janeiro 2009 fevereiro 2009 março 2009 abril 2009 maio 2009 junho 2009 julho 2009 agosto 2009 setembro 2009 outubro 2009 novembro 2009 dezembro 2009 janeiro 2010 fevereiro 2010 março 2010 abril 2010 maio 2010 junho 2010 julho 2010 agosto 2010 setembro 2010 outubro 2010 novembro 2010 dezembro 2010 janeiro 2011 fevereiro 2011 março 2011 abril 2011 maio 2011 junho 2011 julho 2011 agosto 2011 setembro 2011 outubro 2011 novembro 2011 dezembro 2011 janeiro 2012 fevereiro 2012 março 2012 abril 2012 maio 2012 julho 2012 agosto 2012 setembro 2012 outubro 2012 novembro 2012 dezembro 2012 janeiro 2013 março 2013 abril 2013 maio 2013 julho 2013 agosto 2013 setembro 2013 novembro 2013 janeiro 2014 março 2014 maio 2014 julho 2014 agosto 2014 janeiro 2015 fevereiro 2015 maio 2015 junho 2015 setembro 2015 outubro 2015 dezembro 2015 abril 2016 julho 2016 setembro 2016 novembro 2016