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Universos Assimétricos

Uma História de Agressão

6.1.08

Entre gente remota, com a alma cheia de campo 


Na gare marítima de Alcântara está, até 30 deste mês, a exposição «Traços da diáspora portuguesa», subordinada ao tema da emigração portuguesa ao longo dos tempos.
Lá se vão encontrar alguns fragmentos dessa realidade que nos tocou a todos e que, por isso, às vezes, emociona.



O fenómeno da emigração tem esses aspectos da partida (na tristeza dos que ficam, no entusiasmo temeroso dos que vão), da interacção dessas comunidades que se formam nos países de acolhimento com as outras comunidades, e a questão do regresso ensaiado ou concretizado, que altera até a fisionomia urbana do país.

Dum painel da exposição retirei o seguinte texto:

Sonhos de pedra e cal
Em muitos processos de migrações internacionais, quaisquer que sejam os países de origem ou de destino envolvidos, é frequente que exista a intenção de um dia acontecer um regresso à terra de onde se saiu. Quer este propósito se venha ou não a efectivar, a construção de uma casa nova na terra natal, muito mais cómoda e bonita do que aquela que antes habitavam, constitui um sonho que muitos procuraram realizar.

Não é uma casa qualquer; se possível, ela deve espelhar toda a magia da imaginação que a concebeu, ser a expressão do sucesso que se aspirou atingir, justificar visivelmente todos os esforços e sacrifícios consentidos, mostrar a maior diferença possível em relação às outras casas existentes.

Na segunda metade do século XIX, surgem na parte norte do país as chamadas “casas de Brasileiro”. Ricas e apalaçadas, desenhadas por bons arquitectos, construídas com materiais nobres, pintadas com cores vivas e com jardins frondosos onde sobressaíam as palmeiras imperiais, procuravam espelhar o sucesso alcançado por aqueles que regressavam ao país, vindos do Brasil, com considerável riqueza amealhada.

Na viragem do século XIX, no arquipélago dos Açores, afirma-se a arquitectura baleeira, de estilo importado da Nova Inglaterra por emigrantes açorianos, com a utilização de paredes revestidas a madeira, de que se podem apreciar bons exemplares nas ilhas do Pico e do Faial.

Após a década de 60, nascem por quase todo o país as chamadas “casas de emigrante”, amplas, confortáveis e de boa construção, reflectindo, em muitos casos, a visão pessoal de estéticas e de estilos provindos de diversas partes da Europa.



Estas casas distinguem-se em geral das que as cercam, mais simples e mais rústicas, pois que tal foi o propósito da sua concepção e construção. Em Portugal, centenas ou até milhares de aldeias, antes com um aspecto muito pobre e degradado, rejuvenesceram, oferecendo um panorama novo, modernizado e urbano em espaços de anterior fisionomia rural.

Assim o sonho dos emigrantes encontrou uma das suas expressões na visibilidade das novas construções que hoje, como já no passado acontecera, estão presentes em todo o país. E, hoje como ontem, a estranheza que o seu gosto, às vezes arrojado ou mesmo insólito, de início despertou, veio a diluir-se naturalmente com o passar dos tempos…


A visita a esta exposição é também oportunidade para recordar os painéis de Almada Negreiros daquela gare.


posted by perplexo  # 19:23

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