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Universos Assimétricos

Uma História de Agressão

27.3.09

O maroto do Pomar! 




Na galeria de retratos do Museu da Presidência da República, está um retrato que todos acham desenquadrado. Trata-se do retrato de Mário Soares pintado por Júlio Pomar. Na sequência de uma dúzia e meia de retratos austeros, solenes, escuros, dos presidentes antecessores, surge este, geralmente qualificado de «pouco ortodoxo, inusitado, irreverente, exemplo de expressividade e modernidade, que retrata o verdadeiro Soares, descontraído e sem pose», etc.

Realmente ser-me-ia inesperado se eu não o conhecesse já, da comunicação social. Tinha-me parecido um tanto arrojado, mas não tinha atentado bem nos pormenores. Nunca tinha estado ao pé dele.
A obra de arte vista ao vivo parece que comunica melhor o que tem para dizer.
O que choca mais é a forma tosca da mão direita, que obviamente, está a gesticular, como quem argumenta. O braço esquerdo pareceu-me numa posição estranha, bizarra. Não se percebe como é que ele pode ter o braço naquela posição.

De repente, a luz. O dedo da mão esquerda, apontado para si próprio, tem uns traços junto à ponta, a indicar oscilação, como na banda desenhada. «Olhe que não!; olhe que não!». O braço não é dele, é do Cunhal. Por isso o braço não parecia dele. Então reparamos que até a cor da manga é diferente. Aquele retrato conta um momento, talvez o momento mais famoso do PREC, quando os dois líderes dos dois partidos mais influentes em 75 se confrontaram em frente às câmaras da RTP.

Grande malandro, o Pomar! Quase que enganou toda a gente. Eu, pelo menos, nunca ouvi sugerir esta leitura.

Então, tornamo-nos desconfiados. O que mais terá o Pomar escondido na tela? Certamente que aquele rosa por cima da mão direita não é para chamar troca-tintas ao seu amigo, mas a cor ali muda, por efeito do gesto da mão, dum sombrio e nocturno azul que tudo envolve, para um festivo e diurno rosa, como quem limpa uma superfície embaciada por uma longa noite.
O Soares está numa cadeira com francas conotações de poder, por causa dos dois leões nos braços da cadeira. Está inclinado para a sua esquerda, para onde a gravata também aponta. O leão do braço direito, em traços mais conservadores que o leão do braço esquerdo, parece a cara de alguém. Quem? Esta, eu não quero arriscar. Pela cor do braço, podia ser o Cunhal; pela posição à direita, podia ser o Spínola. Aliás, o olho esquerdo do leão parece que tem um monóculo. Ou será uma leoa? Quem seria a leoa-braço direito de Soares? Parece evidente a resposta. Mas isso, só perguntando ao Pomar.

posted by perplexo  # 02:27
Comments:
Excelente, esta tua leitura!
Ainda a vou mandar ao Pomar...
abraço
 
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26.3.09

Presos pelo pescoço 





Há semanas, fui visitar o Museu da Presidência da República. Nunca tinha visitado a exposição das ofertas que os presidentes receberam, nem a galeria de retratos. Algumas das peças oferecidas surpreenderam-me. Entre elas, uma peça pequena, em bronze, de um par de cães em atitude de caça, mas presos um ao outro por uma correia, não podia ser mais simbólica, quando ficamos a saber que foi oferecida pelo Rei de Espanha… Não há dúvida que o nosso destino é comum, que estamos condenados a entender-nos.

19.3.09

O catolicismo está esclerosado 


Digo isto porque, mais uma vez, a hierarquia católica revelou de que lado está. No caso da menina brasileira de 9 anos, engravidada pelo pai, a Igreja excomungou os médicos e familiares que ajudaram a menina a abortar. O pai violador não foi excomungado.

Agora, em África, o Papa condenou o preservativo, dizendo que agrava o problema da Sida. Defendeu a abstinência e a fidelidade para a combater.
Faz-me lembrar uma personagem de Sttau Monteiro, um polícia que disparava sobre as ondas, acho que para as calar.

Pôr a teoria acima das pessoas é típico dos fanáticos e das suas organizações totalitárias. Em nome da teoria, ficam de consciência tranquila em relação a todos os sofrimentos que infligem.

O catolicismo está esclerosado. Se calhar, sempre esteve.

17.3.09

Best of... Março de 2008 


Diz que é uma espécie de antifascista

Sexta-feira passada, o ministro Santos Silva, ao ser confrontado com uma manifestação de descontentes que lhe chamou «fascista», reagiu assim:

"A liberdade é algo que o País deve a Mário Soares, a Salgado Zenha, a Manuel Alegre... Não deve a Álvaro Cunhal nem a Mário Nogueira" (…) "lutaram por ela antes do 25 de Abril contra o fascismo, e lutaram por ela depois do 25 de Abril contra a tentativa de tentar criar em Portugal uma ditadura comunista".

Afinal o ministro é um tonto. E dos ingratos.

Calma, Gugu! Esses ares de antifascista ofendida são muito reveladores. Aposto que tem, emoldurado, um certificado de ter corrido uma vez à frente da polícia. E os pergaminhos que o PS ostenta de ter liquidado a Revolução, também. Isso, ninguém lhe contesta. Mas veja lá que talvez alguma das visitas de casa não consiga evitar um esgar de asco.

Logo após Novembro:

- O acesso aos meios de comunicação vai-se afunilando para os trabalhadores e sindicatos e escancarando para as organizações patronais.

- O sector privado é restabelecido pela desintervenção de parte da indústria nacionalizada, dando-lhe ainda acesso à indústria de armamento, petroquímica, adubos e siderurgia, e pela entrega sucessiva de «reservas» aos antigos agrários.
Mais tarde, abrir-se-ão «à iniciativa privada os sectores adubeiro, cimenteiro, bancário e segurador».[1]

- Concedem-se «abundantes benefícios fiscais», a agricultura é protegida «por quotas de importação, direitos aduaneiros e subsídios diversos».

O patronato agrupado em confederações (CAP, CIP e CCP), considera sempre «a lei demasiado restritiva», as «medidas insuficientes». Nunca está satisfeito. E o Estado vai tentando satisfazê-lo. «Haveria também uma factura a honrar, a do 25 de Novembro».[2]

- «Agiliza-se» a legislação laboral, facilitando os despedimentos, criando a figura do contrato a prazo [3], facilitando o poder disciplinar pelo patrão, tentando calar as críticas deste, que nunca se cansa de se queixar da legislação laboral para justificar a falta de competitividade das empresas.

- Atacam-se os sindicatos da CGTP-In: [4] inviabiliza-se a cobrança de quotas sindicais pelas empresas; cria-se outra central sindical na área do PS e PPD, tentando fazer corresponder no mundo sindical a relação numérica das urnas; muscula-se a relação com as greves, recorrendo à requisição civil se necessário; introduz-se um tecto salarial para evitar a desmesura dos aumentos salariais, ainda que estes não cubram o aumento da inflação.

Quem não quer ser lobo não lhe veste a pele. Quem não quer ser chamado de fascista não faz o que o PS, às vezes, faz.

Calma, Gugu! Fascista não será o senhor nem o PS, mas não está à espera que os descontentes, tão descontentes que «vêm para a rua gritar», elaborem o discurso com as subtilezas de um comentador televisivo versado em Teoria Política:

- O seu partido, senhor ministro, tem uma prática política que, embora não possa ser formalmente classificada como fascista, apresenta, no entanto, certas posturas tendencialmente fascizantes que acossam os cidadãos do modo que a comunicação social costuma imputar ao regime anterior.

A destruição do Serviço Nacional de Saúde é o quê?
A projectada extinção dos pequenos partidos é o quê?

Calma e humildade, Gugu! Muito caminho antifascista terá que percorrer para chegar às sobrancelhas de Cunhal.

[1] José Medeiros Ferreira, José Mattoso (dir.), «Do período de transição à actualidade», in História de Portugal, 8 vols., vol. 8: Portugal em transe: 1974-1985, Lisboa, Estampa, s.d. [1994]. p. 156.
[2] Ibidem, p. 161.
[3] Ibidem, p. 154.
[4] Ibidem, p. 155.

16.3.09

Banda desenhada e cantada 


Há dias, voltei, pela terceira vez, ao Museu de Etnologia – ali por cima do estádio do Belenenses – onde já não ia há uns quatro anos. O agrado não podia ser maior. A exposição de tiras pintadas por mulheres indianas tem uma beleza, uma genuinidade, que me surpreenderam. Assisti, também, um pouco emocionado, ao total de um vídeo com uma meia hora, onde se mostra o quotidiano envolvente daquelas mulheres, as suas dificuldades económicas e sociais, o seu projecto colectivo, e onde também se mostra como surgem as tiras, desde a produção caseira das cores, até à concepção das cenas, à pintura, e à apresentação cantada. Os temas sociais, onde se percebe uma crescente consciencialização da força do feminino para resolver os seus problemas e ganhar controlo sobre o corpo e a vida, têm vindo a ganhar terreno aos temas tradicionais, geralmente religiosos. Uns e outros estendem-se ao longo das tiras de mais de dois metros, verdadeiras histórias em quadradões, ora de uma ingenuidade tocante, ora de uma habilidade de traço que surpreende em populares sem preparação académica.


«A tradição de cantar histórias pintadas em longas tiras que se vão desenrolando é antiga na Índia e tem sido uma actividade eminentemente masculina, desempenhada pela comunidade dos Patua. Recentemente, um grupo de mulheres de Naya, uma aldeia perto de Calcutá, retomou esta prática, tendo constituído uma associação de pintoras. Muitos dos seus membros estão representados nesta exposição. Esforçam-se por encontrar novos mercados para vender o seu trabalho em feiras de artesanato e junto das famílias de classe média de Calcutá. Para além deste canto feito em itinerância, elas aumentam o seu rendimento mediante a venda a particulares, mas também a patrocinadores estatais de campanhas a favor da alfabetização da população adulta, das regalias sociais e da saúde pública.»

14.3.09

Tal pai, tal filho 


Tendo pois vagueado pelo deserto durante 40 anos, após a saída do Egipto, disse Josué ao seu povo: «O Senhor nos prometeu a terra de Canaan onde corre o leite e o mel. Destruamos as muralhas das suas cidades, passemos a fio de espada os seus habitantes e tomemos posse do que é nosso por promessa do Senhor.» E assim se fez.

Tendo pois andado dezanove séculos disperso pelas terras dos ímpios, após a Segunda Diáspora, disse Ben Gurion ao seu povo: «O Senhor nos prometeu a terra de Canaan onde corre o leite e o mel. Destruamos as suas cidades, espalhemos o terror entre os seus habitantes e tomemos posse do que é nosso por promessa do Senhor.» E assim se tem feito, com a letargia cúmplice da comunidade internacional.

2.3.09

O saque em curso 


O horizonte está escuro. A oligarquia no poder está a descapitalizar rapidamente o Estado através do seu banco.
Há dias descobriu-se que a Caixa comprou acções a um cliente a um preço bem superior ao seu valor em bolsa, ofertando-lhe, assim, 62 milhões de euros. Argumentou que eram acções que tinham servido de garantia, e que, entretanto desvalorizadas, já não cobriam o autorizado. Incúria? Descuido? Não.

Em 2001 não me deixaram dar ordem de compra de acções por lá não ter, no dia, o valor correspondente. Argumentei que nunca tinha faltado com o valor no dia da liquidação; que tinha lá acções que cobriam o valor em causa, se a isso se chegasse. Nada feito. Foram irredutíveis.

Agora, verifico que nem sempre é assim. Portanto, praticam o compadrio, o favorecimento, cultivam a corrupção. Com danos imensos para o Estado – todos nós.
Isto, para mim, é saque puro e duro. Não há controlo, não há travão, a coligação oligárquica no poder vai rodando os seus membros pelo governo, pela banca – entreajudam-se e encobrem-se uns aos outros. Se não os substituirmos rapidamente, levarão o país à bancarrota.

P.S.(2/3): Parece que sou bruxo: sexta-feira passada, o Governo alterou as condições de remuneração dos Certificados de Aforro, tornando-os mais atractivos - estão a tentar captar mais poupança, que as reservas devem estar a baixar perigosamente...

Comments:
A questão que me preocupa, ainda que não jogue na bolsa (possiveis ganhos apenas e só com base na especulação) e para além da necessidade de os substituir (a estes e a outros por aí instalados) é saber quem ocupará o lugar vago.
Até porque, como diz o povo e se tem vindo a constatar "Atrás de mim virá quem bom de mim fará!"
 
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