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Universos Assimétricos

Uma História de Agressão

19.5.09

Odi–acho 


É histórico que a abadessa do convento de Odivelas, madre Paula, era amante de D. João V, de quem teve vários filhos. Tenho ouvido, ao longo dos anos, atribuir a origem do topónimo Odivelas aos ciúmes da mulher de um rei que teria dito ao marido, agastada, «Ide vê-las!». Ao iniciar este post, pensei que se referiam a D. João V, mas, afinal, é a D. Dinis que a lenda atribui umas escapadelas à zona de Odivelas para se encontrar com raparigas.

Sempre achei que esta atribuição toponímica era uma história mal contada, fundada, quase só, numa candura de observação de similitude ortográfica e fónica. Sempre reparei no prefixo «odi» ou «ode» na composição de vários topónimos do sul do país: Odeceixe; Odeleite; Odelouca; Odemira; Odivelas; Odiáxere. Parecia-me coincidência a mais e, ou me lembrava de alguma referência de quando fui a Marrocos, ou de algo que lera, pois que sempre suspeitei que este prefixo fosse uma permanência linguística do árabe na toponímia nacional, sempre em localidades próximas de um curso de água.

Com efeito, neste momento, ao pesquisar «a lenda de Ide vê-las», encontrei no site da Câmara de Odivelas a confirmação, que era só o que me faltava:
«Os filólogos dão porém, outra explicação: a palavra compõe-se de dois elementos: "Odi" e "Velas". A primeira é de origem árabe e significa "curso de água". A segunda é de origem latina e refere-se às velas dos moinhos de vento, que existiram nos outeiros próximos e dos quais podemos ainda ver vestígios. O curso de água ainda se mantém hoje.»

Fico reconfortado por ser confirmado com a parte árabe – a principal questão; torço o nariz às «velas». Não é a sobreposição com palavras actuais que me convence, antes pelo contrário. Não me parece que na Odivelas próxima de Ferreira do Alentejo houvesse condições orográficas e anemográficas para incentivar uma proliferação de moinhos de vento. Mas, aclarar essa questão fica para depois.

posted by perplexo  # 23:20
Comments:
As lendas são importantes e a sua verdade histórica é uma coisa de somenos importância. Sempre é melhor a lenda lembrar os amores ilícitos de um rei que uma conjugação de topónimos que no caso de Odivelas, as velas nunca seriam de moinho porque este tem "Aspas" e não "Velas.

O Topónimo "Odi" e "Guad" provém do Árabe "Oued" (Rio, curso de água), pelo que Guadiana era Oued Iana, Guadalquivir, Oued Al-Kebir e os topónimos alentejanos Odi seria Oued, seguido do nome, o qual deve ter sido aportuguesado ao longo dos tempos.
 
Magnífica explicação, Luís! Obrigado.
 
E só depois de pesquisar «aspas de moinho» - por estranhar o que dizias - é que percebi que as velas do moinho se chamam aspas.
Sempre a aprender...
 
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