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Universos Assimétricos

Uma História de Agressão

31.1.12

Carne certificada 


Hoje passou-me pelas mãos um jornal de 1982. Eram tempos bem diferentes, mas de lá vêm já os nossos problemas.

Pelo que percebi, estava em curso uma revisão constitucional. Alguma força política tinha proposto a inclusão da figura do salário máximo nacional. Não sei que argumentos foram expendidos a favor ou contra, mas essa alteração não passou. A maioritária AD chumbou-a.

Não me surpreende essa posição. São as forças do liberalismo que nos trouxeram aqui. A sua visão da justeza do mundo é a da desregulação, da competição sem regras, da lei da selva. Os fortes caçam e banqueteiam-se com os fracos, os espertos magicam artifícios para comer a carne dos ingénuos com pouco esforço.

Nunca a pecuária lhes correu tão bem como agora. A carne, indefesa, impotente, entrega-se-lhes submissa e resignada. Portugal é, cada vez mais, uma grande e rentável exploração.

posted by perplexo  # 21:05
Comments:
Perderam há muito a noção de decência!
 
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22.1.12

Falta de grandeza 


Há um ano, Cavaco, ressabiado pelas críticas na campanha, fazia um discurso de vitória vergonhoso.
Agora, veio queixar-se de ter reformas baixas e necessitar de recorrer às suas poupanças para conseguir pagar as despesas.

Não é verdade. Segundo notícias recentes, o homem recebe 10.000 euros por mês de duas reformas. Além disso, a função fornece-lhe 2.900 euros para despesas pessoais.

O homem, se não é mentiroso, tem um contacto frágil com a realidade.

E mesmo que fosse verdade, tendo a representação que tem, e mesmo sem falar das dificuldades que o país atravessa, mandava o mais elementar senso de elevação que calasse as suas dificuldades douradas e apresentasse às instâncias competentes o seu problema, em vez de vir queixar-se para a rua, como qualquer bêbado incompreendido.

Agora percebe-se o sorriso das vacas açorianas.

Comments:
Sempre fiz tudo para que não fizesse fracas figuras!!
... nunca votei nele!!
 
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18.1.12

Resistir é preciso 




Figura feminina, sem título, de Stella Albuquerque.
Parque Eduardo VII, Lisboa

Como a arquitectura não é só estilo e necessita duma sustentação de engenharia, também a escultura necessita de se precaver da força da gravidade e da fraca resistência de alguns materiais de que é feita. Em algumas culturas e épocas, a escultura tendia para o bloco, para resistir às agressões do meio. Em períodos "clássicos" em que a escultura tendia para o realismo, havia que arranjar estratagemas para que os elementos frágeis e mais facilmente fracturáveis e destacáveis obtivessem sustentação e apoio. Geralmente, elementos exteriores – panos, mantos, troncos, ramos e folhas – eram adossados aos braços, à cabeça, sobretudo às pernas, que sustentam o maior peso.

Neste caso, o braço ajuda a dar firmeza à cabeça, enquanto esta é, na prática, o maior sustentáculo do braço. Acredito que foi uma necessidade de robustez da peça que determinou um pescoço tão possante, o qual contrasta com a delicadeza do seio.


15.1.12

Sem mácula 

Em Lisboa ainda há boa escultura não atacada pelos vândalos. Aliás, quem a conheceu há anos percebe que terá sido objecto de cuidados de limpeza recentes. Só o descuido de algum emplumado lhes confere manchas menos dignas. Neste caso, talvez para protestar pelo seu ar vagamente andrógino...



Escultura sem título de Stella Albuquerque no Parque Eduaro VII


Comments:
Andrógino, mas ainda assim belo!
 
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12.1.12

Best of... Janeiro de 2011 


Canto da Maia



Ernesto Canto da Maia (1890–1981)
Bendito seja o fruto do teu ventre (década de 40)
Museu Carlos Machado – Ponta Delgada


Há tempos, passou por Lisboa uma exposição de obras do açoriano Canto da Maia.
Gosto muito de Canto da Maia. Quem pode esquecer Adão e Eva do Museu do Chiado?

Além de Paris e Genebra, estudou em Madrid onde recebeu a influência mais marcante nas suas opções formais e estéticas da parte de Júlio António, escultor com influências de Donatello e da escultura grega pré-clássica, com uma obra de grande sobriedade formal e contenção emotiva. Transmite ao açoriano, sobretudo, a consciência duma cultura comum à bacia mediterrânica, desde os arcaísmos gregos pré-clássicos aos realismos renascentistas. A partir daqui, Canto da Maia desenvolve uma estética pessoal de despojamento formal e sobriedade expressiva dos modelados, aspectos que se revelaram percursores da «Art Deco».

Este movimento que influenciou sobretudo as artes decorativas, desenvolveu-se entre as duas guerras mundiais. As suas características derivam de vários estilos de pintura de vanguarda do princípio do século. Exibe aspectos do Cubismo, do Construtivismo russo e do Futurismo, usando simplificações e distorções, sobretudo geometrizantes. Foi considerado um estilo elegante e sofisticado.

Canto da Maia aplicou esse gosto às suas esculturas, sobretudo no tratamento dos pregueados dos panejamentos e nos sofisticados desenhos dos penteados das figuras. As suas esculturas, associando estes tratamentos a estruturas formais pré-clássicas ou clássicas, transmitem uma imagem de arcaísmo erudito de grande beleza com reminiscências primordiais e individualidade criativa.

Terracota, material no qual modela algumas das suas maiores peças, significa literalmente terra cozida. É um material que se trabalha bem, em termos de modelação, mas que exige muitos cuidados para não se desmoronar, sobretudo nas peças grandes, antes de ser cozido. A típica cor avermelhada transmite às peças uma imediata aura de primitivismo, porque estamos habituados a encontrar peças em terracota oriundas de civilizações primitivas, quer antigas, quer actuais. Usavam-na os Sumérios, os Egípcios, os Gregos pré-clássicos, os primitivos actuais.

A cor apontada com admiração por quase todos os críticos da altura, é mais um dos aspectos que transmite ancestralidade intemporal às peças. Os véus, usados como elementos simbólicos mas também decorativos, com plissados longitudinais e pregueados arredondados horizontais, acentuam a nudez e as massas carnais e fazem lembrar as vestes leves e transparentes das representações egípcias do Império Novo, mas também as gregas. Transmitem a ideia de serem tecidos pouco espessos e muito leves.

Os penteados, sobretudo na mulher, são sempre objecto de um trabalho minucioso de modelação, apresentando estruturas complexas.

Os rostos desta obra, em tensão emotiva, estabelecem um diálogo telepático, íntimo e privado. Ao espectador resta circular, estranho, à volta do par, para o qual não existe mais ninguém no Mundo. A estranheza é paradoxalmente acentuada pelo tamanho humano das figuras. São quase humanas, mas estão como que noutra dimensão inatingível pelo espectador.


10.1.12

Best of... Dezembro de 2010 


O prémio Nobel da Paz arrastado pela lama

Há um ano, o comité para o Nobel da Paz atribuiu esse galardão a Obama. Foi um lamentável equívoco. Não só ele mantinha, na altura, duas frentes de guerra, como desde então, continua a ocupar o Iraque, tem aumentado a força militar de ocupação do Afeganistão e acaba de adiar indefinidamente o fecho da prisão, anti-Convenção de Genebra, de Guantánamo.

É lamentável atribuir prémios da paz a líderes de potências agressoras, como Obama, Kissinger ou Rabin. Melhor escolha seria alguém como Julian Assange que, em vez de invadir países, expõe quem o faz.

Comments:
Um desastre previsível!
 
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5.1.12

A Arte da Guerra 


Ainda no CCB, uma exposição de cartazes de propaganda de vários países, durante a II Guerra Mundial.

O conjunto utilizado nos Estados Unidos é especialmente impressionante pela atenção a todos os aspectos da vida no apoio ao esforço de guerra, quer poupando em tudo – combustível, pneus, tecidos –, quer produzindo – voluntariado em quintas, etc. – quer no apoio ao moral dos soldados.





Aqui, um apelo às mulheres para responderem a todas as cartas deles.

Comments:
Eles nunca brincaram em serviço!
 
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3.1.12

Vik Muniz 


A exposição de obras do brasileiro Vic Muniz, que ainda se mantém no CCB, é francamente recomendável. O mais frequente são “reproduções” de grandes obras da pintura mundial, mas elaboradas com materiais inopinados e à custa de muito muito trabalho miudinho. Há um “Naufrágio do Medusa” feito com chocolate líquido, ícones de Hollywood feitos com caviar, “A Morte de Marat” feita com lixo, um retrato de Elizabeth Taylor com brilhantes, e muitas outras imagens feitas com outros materiais inesperados como lixo do aspirador, linhas de coser, manteiga de amendoim, pigmentos em pó, pedaços de papel, bonequinhos e outros brinquedos em plástico, etc.
São obras efémeras, em geral de grandes dimensões, que após concluídas são fotografadas e destruídas. São essas, em geral grandes, fotos que são ali mostradas.






Nesta reprodução dum conhecido quadro de Caillebotte, Muniz usou tiras de revistas.

1.1.12

Bom ano, mas atenção! 




Apesar do caos em que nos afundaram e de todas as nebulosas que querem meter-nos pelos olhos dentro, convém mantermos o foco no que realmente interessa.


Comments:
A atenção nunca é demais!!!
 
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