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Poema da pedra lioz
Álvaro Góis,
Rui Mamede,
filhos de António Brandão,
naturais de Cantanhede,
pedreiros de profissão,
de sombrias cataduras
como bisontes lendários,
modelam ternas figuras
na brutidão dos calcários.
Ali, no esconso recanto,
só o túmulo, e mais nada,
suspenso no roxo pranto
de uma fresta geminada.
Mas no silêncio da nave,
como um cinzel que batuca,
soa sempre um truca… truca…
Lento, pausado, suave,
truca, truca, truca, truca,
sob a abóbada românica,
como um cinzel que batuca
numa insistência satânica:
truca, truca, truca, truca,
truca, truca, truca, truca.
Álvaro Góis,
Rui Mamede,
filhos de António Brandão,
naturais de Cantanhede,
ambos vivos ali estão,
truca, truca, truca, truca,
vestidos de surrobeco
e acocorados no chão,
truca, truca, truca, truca.
No friso largo de um palmo,
que dá volta a toda a arca,
um Cristo, de gesto calmo,
assiste ao chegar da barca.
Homens de vária feição,
barrigudos e contentes,
mostram, no riso dos dentes
o gozo da salvação.
Anjinhos de longas vestes,
e cabelo aos caracóis,
tocam pífaros celestes,
entre cometas e sóis.
Mulheres e homens, sem paz,
esgazeados de remorsos,
desistem de fazer esforços,
entregam-se a Satanás.
Fixando a pedra, mirando-a,
quanto mais o olhar se educa,
mais se estende o truca… truca…
que enche a nave, transbordando-a,
truca, truca, truca, truca
truca, truca, truca, truca.
No desmedido caixão,
grande senhor ali jaz.
Pupilo de Satanás?
Alma pura de eleição?
Dom Afonso ou Dom João?
Para o caso tanto faz.
António Gedeão
Este poema está exposto com destaque no Museu da Pedra em Cantanhede, um museu muito pedagógico sobre a pedra, desde as formações geológicas da região até aos produtos finais, com realce para os escultóricos, passando pelas patologias de pedra e pelas ferramentas do trabalho, tantas vezes anónimo, da transformação do informe oculto em delicada forma revelada.
Lioz é o calcário brando da zona de Lisboa com o qual foram construídos quase todos os seus monumentos, desde a Torre de Belém à Sede da Caixa Geral de Depósitos. O calcário da zona de Cantanhede é a chamada Pedra de Ançã extraída nas pedreiras de Ançã, Portunhos e Outil e que moldou a face arquitectónica e escultórica de Coimbra no século XVI.
Até 5 de Março, estão expostas cerca de 70 obras de jovens artistas (18-35) em 2 espaços da Câmara da Amadora – o próprio edifício da Câmara e o espaço Recreios da Amadora, do outro lado da linha.
- Único em três pessoas… Está claro, agora?
«Que fique muito claro. Não sou um abstraccionista… Não estou interessado na relação da cor com a forma ou com qualquer outra coisa. Estou interessado apenas em expressar as emoções humanas básicas – tragédia, êxtase, ruína e assim por diante. E o facto de muita gente se ir abaixo e chorar quando se vê confrontada com os meus quadros mostra que consigo comunicar emoções humanas básicas. As pessoas que choram perante as minhas pinturas estão a ter a mesma experiência religiosa que eu tive quando as pintei. E se você, como diz, se emociona apenas com as relações de cores, não entendeu.» Mark Rothko (1903-1970)
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