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Universos Assimétricos

Uma História de Agressão

11.3.08

Diz que é uma espécie de antifascista 


Sexta-feira passada, o ministro Santos Silva, ao ser confrontado com uma manifestação de descontentes que lhe chamou «fascista», reagiu assim:

"A liberdade é algo que o País deve a Mário Soares, a Salgado Zenha, a Manuel Alegre... Não deve a Álvaro Cunhal nem a Mário Nogueira" (…) "lutaram por ela antes do 25 de Abril contra o fascismo, e lutaram por ela depois do 25 de Abril contra a tentativa de tentar criar em Portugal uma ditadura comunista".

Afinal o ministro é um tonto. E dos ingratos.

Calma, Gugu! Esses ares de antifascista ofendida são muito reveladores. Aposto que tem um certificado de ter corrido uma vez à frente da polícia, emoldurado. E os pergaminhos que o PS ostenta de ter liquidado a Revolução também. Isso, ninguém lhe contesta. Mas veja lá que talvez alguma das visitas de casa não consiga evitar um esgar de asco.

Logo após Novembro:

- O acesso aos meios de comunicação vai-se afunilando para os trabalhadores e sindicatos e escancarando para as organizações patronais.

- O sector privado é restabelecido pela desintervenção de parte da indústria nacionalizada, dando-lhe ainda acesso à indústria de armamento, petroquímica, adubos e siderurgia, e pela entrega sucessiva de «reservas» aos antigos agrários.
Mais tarde, abrir-se-ão «à iniciativa privada os sectores adubeiro, cimenteiro, bancário e segurador».[1]

- Concedem-se «abundantes benefícios fiscais», a agricultura é protegida «por quotas de importação, direitos aduaneiros e subsídios diversos».

O patronato agrupado em confederações (CAP, CIP e CCP), considera sempre «a lei demasiado restritiva», as «medidas insuficientes». Nunca está satisfeito. E o Estado vai tentando satisfazê-lo. «Haveria também uma factura a honrar, a do 25 de Novembro».[2]

- «Agiliza-se» a legislação laboral, facilitando os despedimentos, criando a figura do contrato a prazo [3], facilitando o poder disciplinar pelo patrão, tentando calar as críticas deste, que nunca se cansa de se queixar da legislação laboral para justificar a falta de competitividade das empresas.

- Atacam-se os sindicatos da CGTP-In: [4] inviabiliza-se a cobrança de quotas sindicais pelas empresas; cria-se outra central sindical na área do PS e PPD, tentando fazer corresponder no mundo sindical a relação numérica das urnas; muscula-se a relação com as greves, recorrendo à requisição civil se necessário; introduz-se um tecto salarial para evitar a desmesura dos aumentos salariais, ainda que estes não cubram o aumento da inflação.

Quem não quer ser lobo não lhe veste a pele. Quem não quer ser chamado de fascista não faz o que o PS, às vezes, faz.

Calma, Gugu! Fascista não será o senhor nem o PS, mas não está à espera que os descontentes, tão descontentes que «vêm para a rua gritar», elaborem o discurso com as subtilezas de um comentador televisivo versado em Teoria Política:

- O seu partido, senhor ministro, tem uma prática política que, embora não possa ser formalmente classificada como fascista, apresenta no entanto certas posturas tendencialmente fascizantes que acossam os cidadãos do modo que a comunicação social costuma imputar ao regime anterior.

A destruição do Serviço Nacional de Saúde é o quê?
A projectada extinção dos pequenos partidos é o quê?

Calma e humildade, Gugu! Muito caminho antifascista terá que percorrer para chegar às sobrancelhas de Cunhal.

[1] José Medeiros Ferreira, José Mattoso (dir.), «Do período de transição à actualidade», in História de Portugal, 8 vols., vol. 8: Portugal em transe: 1974-1985, Lisboa, Estampa, s.d. [1994]. p. 156.
[2] Ibidem, p. 161.
[3] Ibidem, p. 154.
[4] Ibidem, p. 155.

posted by perplexo  # 23:11
Comments:
O que é essa coisa de fascista? Podem explicar-me? Onde estava o facho?
Um abraço. Augusto
 
Augusto, os historiadores realmente dizem que o salazarismo não pode ser considerado um fascismo mas os críticos chamaram-lho para realçar as suas características de autoritarismo, censura, polícia política, propaganda e nacionalismo, características do regime de Mussolini que usava o fascio dos antigos Romanos como emblema.
 
Muito caminho antifascista terá que percorrer para chegar às sobrancelhas de Cunhal. Lindo:)

Gostei mucho deste post.
Realmente esse Gugu, o gajo parece que começou a desconversar. Acho que aqui o mens não percebeu que a malta anda lixada é com o que agora se anda a fazer e não com o que supostamente os amigos velhotes dele evitaram que acontecesse. Hoje estamos zangados com ele. Não estamos satisfeitos com o que ele preveniu. Tem a faca e o queijo na mão e diz...-pois se não temos sido nós esta faca e este queijo...eram vermelhos...wtf?...

eu cá desconverso sempre.

-Olá bom dia.
-Bom dia só porque não somos todos comunistas e porque não somos enviados para a Sibéria...viva a contra revolução.
-Poças. Contigo não se pode falar!
 
«Tem a faca e o queijo na mão e diz...-pois se não temos sido nós esta faca e este queijo...eram vermelhos...» - Muito bem observado!
 
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