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Universos Assimétricos

Uma História de Agressão

31.1.07

Sinuoso e escorregadio 



(Amy Yoes, Cursiva, 1998, Parque das Nações)


Pelo que li e ouvi, o caso de Torres Novas, da menina - Esmeralda - doada pela mãe para adopção e reclamada pelo pai biológico transformou-se num sinuoso e escorregadio imbróglio que não tem uma solução boa e óbvia. Por culpa de muita gente.

Para começar, o advogado que, por incompetência ou má-fé, induziu em erro o casal adoptante e o levou a acreditar que era possível uma adopção por documento notarial. Não se entende tal erro num profissional. A não ser que esteja habituado a usar «métodos expeditos» para contornar a lei.

A mãe biológica, por ingenuidade, declarou quem era o pai. Se tivesse declarado que não sabia, estava o caso arrumado. Mas fez bem. A verdade acima de tudo.

Os pais adoptantes não permitiram a mínima aproximação do pai biológico. Quiseram, talvez, a «solução» do facto consumado. Mal. Agora caiu-lhes o problema todo em cima.

O pai biológico, o seu representante e o tribunal manifestam uma intolerância de exclusão dos pais adoptantes. Mal.

O tudo ou nada pode vir a revelar-se nem tudo nem nada. Todos querem um «exclusivo» e nenhum o deve ter. Não se pode excluir o pai biológico, porque existe, porque quer aproximar-se. Não se podem excluir os pais adoptantes. Ganharam direitos morais pela «paternidade» que exerceram.
E, acima de tudo, está o «bem-estar» da criança. Este é o argumento mais agitado: não se pode tirar a criança dos pais (sob o ponto de vista afectivo da criança) e entregá-la a um estranho (sob o ponto de vista da criança). Este até é um caso fácil, deste ponto de vista.

Lembram-se dum caso em que uma mulher de Odivelas roubou uma recém-nascida e só se descobriu anos depois? Era um caso bem mais complicado. Gostava de saber que desenvolvimento teve. Em termos de ponto de vista afectivo da criança, a situação era a mesma. Mas, dessa vez, a «adoptante» tinha feito um rapto autêntico e não o pseudo-sequestro de Torres Novas. Ainda assim, naquele antigo caso, havia que tentar a proximidade efectiva e regular dos pais biológicos e da mãe raptora, a bem da criança. Mesmo que fosse pungente para todos os adultos. Para a criança, a mãe não era uma raptora, era a sua mãe. Para a criança, aquele casal que então aparecia era um casal estranho. A transição teria que ser feita com toda a delicadeza, a bem da criança. O que também implicava, da parte dos pais biológicos, «perdoar» à raptora.

É muito complicado e só o bom senso e uma verdadeira vontade altruísta de fazer bem à criança pode produzir resultados positivos e não a vontade egoísta de «possuir» uma criança ou ganhar um caso.

É odiosa a posição legalista mas arrogante e desumana do advogado do pai biológico e do tribunal. Querem «ganhar» um caso mesmo que iniciem uma tremenda atrocidade.

O pai biológico devia aceitar que o percurso que fez o levou a perder parte do direito moral a ter consigo uma filha que perdeu lá para trás. E ficar muito agradecido aos «pais adoptantes». Devia procurar a aproximação mas não exigir a «devolução».

Os «pais adoptantes» deviam aceitar um relacionamento amigável e frequente com o pai biológico e permitir-lhe contactos com a criança. Deviam aceitar que, a bem da criança, estão «condenados» a dar-se bem com o seu pai biológico.

Dá que pensar o momento em que os pais do pai biológico recebem mal a mãe biológica e a afastam. Não os ataco. Só penso que daria um excelente momento dramático em qualquer filme – os avós a mandar embora uma verdadeira neta, pensando que se trata duma impostora. Irónico e trágico, não é?

Dá que pensar a revelação da mãe biológica de que teve alta da maternidade de Coimbra no dia seguinte ao parto e que, sem dinheiro, com a recém-nascida ao colo, foi a pé para a estação de camionagem onde andou 3 horas a pedir moedas para arranjar dinheiro para o bilhete da camioneta.

Esta sociedade está feita num belo, sinuoso e escorregadio imbróglio! Dá que pensar!

posted by perplexo  # 23:38
Comments:
Um imbroglio à portuguesa...
dediquei-te um post ;) era antigo mas passei-o para a frente. Vê se topas aquilo de que te falei....

Topas? Comentários, hellas!

Beijos vou até NY.
Bom fim de semana
 
Diz que não é possível apresentar a página.
maldito Google

www.araparigasamor.blogspot.com
 
Como comentário ao teu post só te posso dizer que "hoje, assim como ontem, esquecem-se sempre que a criança está primeiro". Topas?
Beijosssssss
 
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29.1.07

Como há um ano, ontem nevou em Lisboa 

Canto da alva frialdade

Percutem branda, brandamente,
como se em surdina me procurassem.
Será aguaceiro? Será alguém?
Não é ninguém, decididamente
e os aguaceiros não percutem desta maneira.

É quiçá uma corrente d’ar:
mas ainda há bocadinho,
nem uma folha se agitava
na pacata taciturnidade
dos plátanos da alameda...

Quem percute, tão mansamente,
com surpreendente delicadeza,
que mal se escuta, mal se percebe?
Não é aguaceiro, nem são pessoas,
nem é aragem certamente.

Fui verificar. A neve abatia-se
do anil pardacento do firmamento,
alva e imponderável, ebúrnea e glacial...
– Há muito que a não vislumbrava!
E que nostalgia, caramba!

Observo-a pela marquise.
Transmutou tudo em cor láctea.
Circulam indivíduos e, quando jornadeiam,
as pegadas estampam e gravam
na branquidão da praceta...

Demoro-me a contemplar essas marcas
do desventurado povo que caminha
e reparo, no meio dos outros,
os esboços em ponto pequeno
das extremidades dum petiz...

E sem sapatos, sensíveis...
a neve permite ainda divisá-los,
inicialmente, bem delimitados,
posteriormente, em riscos extensos,
porquanto não conseguia levantá-los!...

Que todo o que já é malvado
amargue suplícios, porque não?!
Mas os garotos, Senhor,
porque lhes aplicais tal sofrimento?!...
Porque penam desta maneira?!...

E uma ilimitada melancolia,
uma cavada revolta
penetra em mim, permanece em mim amarrada.
Abate-se neve na Natureza
– e amontoa-se no mais profundo do meu íntimo.

Agradecimentos:
- Augusto Gil
- Dicionário de sinónimos do Word

Comments:
Um género de humor a que já nos habituaste e que eu aprecio imenso. Quase britânico... Ehehehe!
 
Isto está simplesmente liiiinnndo! Bigada!Bigada!
Beijos. Gostei de mais uma vez estar próxima.
 
Excelente!:)
Gosto do teu humor:)
bjs
 
Olá!

Estão mais fotos no meu Momentos de Luar!

Bjs,
 
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28.1.07

Os comedores de batatas 

(Parte dos 29 comedores de batatas que se reuniram, desta vez, em Odivelas)

Correu muito bem o jantar de blogs de Odivelas, a começar pela comida – fui eu que escolhi o restaurante, eh, eh. É certo que quase todos comeram batatas, mas a acompanhar bacalhau na broa, lombo de porco com farinheira, etc. As entradas tinham mesmo presunto, queijo, mexilhões, etc. E o serviço foi eficaz. Correu bem, pronto.

Apareceram 29 blogueiros, em 30 inscritos. Muito bem.
Mais uma vez só deu para conhecer o «pequeno grupo local» e eu fui dos mais venturosos – à esquerda a Eva, à direita a Susana, e em frente a Rapariga, a Dulce e a Wind, com as quais – todas – mantive largas conversas, como largas eram as outras conversas ao longo da extensa e rectilínea mesa.
Depois do café, disseram-se alguns textos em voz alta – contos, poesias, piadas, ficções. E pronto.

Gosto de pertencer a esta comunidade!


Comments:
já editei umas fotitas no Words;)
beijos
 
Ora bem...li tudo o que aqui escreveu sobre o magnífico encontro e estou de acordo: Correu muito bem o jantar de blogs de Odivelas...realmente só deu para conhecer o «pequeno grupo local» e eu não fiquei próximo de si, mas gostei de ouvir a sua «história», aliás causadora de valente gargalhada geral.

Realmente largas foram as outras conversas ao longo da extensa e rectilínea mesa. Gostei.
Até ao próximo encontro.

Também eu gosto de pertencer a esta comunidade!
 
Mais uma vez gostei do encontro. Quanto à companhia ... excelente!
Beijos
 
A máfia da tintura quase que me boicotava o jantar. Comida óptima, convivas 5 estrelas.
 
olá sr preplexo. parabéns pela escolha do restaurante e pela co-organização de mais um evento destes. é sempre bom ter oportunidade de conhecer pessoas diferentes com algo em comum e aprender e crescer com a ajuda delas. cumprimentos susana
 
O pessoal parece que ficou contente, Passámos neste frequência.
Um abraço. Augusto
 
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25.1.07

À luz de Delft 


Agora que já passaram uns dias, já me sinto mais à-vontade para falar do assunto. Tudo começou na semana a seguir ao Natal quando cheguei a casa, depois do trabalho, aí pelas cinco da tarde. Despejei os bolsos, guardei o casaco e fui ver o comportamento da Bolsa no teletexto, enquanto me libertava dos sapatos. Nenhuma alteração de monta. Como ainda era cedo fui lanchar. Pus duas fatias de pão na torradeira, juntei um copo de leite e compota de ginja num tabuleiro e fui comer para a sala.

Foi já no fim do lanche que o vi: - o carteiro de Pablo Neruda, como eu me lembrava dele no filme, estava mesmo atrás da mulher que lê uma carta junto a uma janela aberta, na reprodução de Vermeer que tenho por cima da escrivaninha. Primeiro, fiquei muito parado sem saber bem o que pensar. Observei a compota, cheirei o leite – pareceram-me em bom estado.
Levantei-me e mirei-o de perto. Estava com aquele ar ingénuo e satisfeito de quem finalmente sabe o que são metáforas. E estava bem implantado na camada cromática, como se tivesse sido pintado ao mesmo tempo que a mulher. Esquecendo a discordância de vestuário não ficava mal de todo. Aparentemente, tinha sido ele que tinha trazido a carta à jovem holandesa de Vermeer.
Bem – pensei – é melhor não dizer nada a ninguém, sem dormir sobre o assunto. Vendo bem as coisas, ele não faz mal a ninguém. Até enriquece a história.
E fui ver o CSI para o sofá. Só vos digo, é quando se dorme melhor!

Quando acordei, a primeira coisa que fiz foi olhar para o quadro. O carteiro já lá não estava. Fiquei aborrecido. Já começara a pôr a hipótese de mostrar o fenómeno aos amigos. Logo a seguir, fiquei preocupado. O problema devia estar em mim. Alguma coisa estava a perturbar a minha percepção. Nessa noite, dormi mal.
Resolvi fazer umas pesquisas na Net do emprego sobre alterações de percepção. Foi só o que fiz na manhã seguinte. Um site francês dizia que níveis elevados de açúcar no sangue podem provocar alucinações.

Quando cheguei a casa, estava uma «menina d’Avignon» – a que parece um índio – em primeiro plano encostada ao cortinado do quadro de Vermeer e virada para a janela. Foi uma aparição menos agradável para mim, até porque agora já sabia que não era um bom sinal. Nessa tarde, fiz um lanche deprimente: uma tosta integral e água.

No dia seguinte estava uma menina de Boucher só parcialmente visível, ingenuamente nua, deitada de borco, a brincar com um dos frutos da fruteira. E nos outros dias sucederam-se outras imagens de menor dimensão – um jarrão azul com flores de Cézanne, um gato de Manet, um par de mãos de Rodin – enquanto a jovem continuava impávida a ler a sua carta. Algumas destas aparições eram-me agradáveis, outras nem por isso.

Entretanto fui ao médico. Impôs-me uma dieta rigorosa sem açúcares e receitou-me uns comprimidos de lítio. Diz que devo ter uma predisposição genética visionária que foi potenciada pelos excessos da quadra natalícia. Para eliminar todos os factores desencadeantes, aconselhou-me ainda a parar com leituras sobre arte durante uns tempos.

Já lá vão duas semanas desde que vi a última falsa imagem – um cavalinho amarelo de Franz Marc. Desde então não voltei a ver figuras a perturbar o recolhimento da holandesa de Vermeer.
Por elas, por algumas, tenho uma certa pena. Mas não se pode ter tudo, não é?

(Foto do quadro por alturas da aparição do gato de Manet)

Comments:
Mas que pena não teres visto um nu do Goya,
Um abraço. Augusto
 
Delicioso!
 
mas que mal faziam as invasivas figuras?
muito bom.
 
Gargalhadas, está uma maravilha:)))
Amanhã linko-te:))
bjs
 
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23.1.07

Gulbenkian é grande 


Há tempos critiquei aqui o horário praticado pela Biblioteca de Arte da Gulbenkian por ser demasiado restrito – fechava às 17,30 h. Verifiquei há dias que esse horário já foi alterado para que a biblioteca feche às 19 horas. Aleluia! – Gulbenkian é grande. Muito bem! Assim já é possível aproveitar razoavelmente bem a tarde.

Entretanto os deuses, traquinas como são, trataram de compensar esta melhoria. É que se dia 2, por 1 euro, assegurei o estacionamento por 2 horas, dia 4, pelo mesmo valor, só pude estacionar por 1 hora e 1 quarto. Se quisesse assegurar 2 horas teria que ter pago 1,75 euros. Isto num bairro tão periférico como o fronteiro à entrada principal da Gulbenkian.

Resultado: - Como eu queria ler lá um livro com umas 350 páginas e em 2 horas só consigo ler umas 20 páginas, cheguei à conclusão que teria que pagar uns 30 euros de estacionamento para ler o livro. Ora se o livro existe no mercado e custa 25 euros, resolvi comprá-lo e lê-lo em casa. Por menos dinheiro, fico com o livro e ainda poupo em gasolina.

Não há dúvida, a avaliar por mim, os aumentos brutais das taxas de estacionamento em Lisboa resultam: entram na cidade menos carros e a indústria livreira vende mais.

Comments:
...e a tua biblioteca aumenta!
Em compensação, sais menos de casa.
Não há bela sem senão!
 
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22.1.07

Sobranceria ou juízo objectivo? 


Jornalista: - O Sr. tem consciência que acaba de fazer a declaração mais importante da noite?
Juiz: - Tenho!

18.1.07

Hoje li, ontem ouvi 


«Se um homem mantém a consciência de sentir que um Picasso incomoda, talvez um dia a luz possa ainda iluminar as trevas» - Rudolph Arnheim


«Escrever, inquieta» - Lídia Jorge

12.1.07

Variedade 


Portugal é um território que já foi ocupado pelos mais díspares povos, desde os nórdicos Visigodos aos iranianos Alanos. Durante a ocupação muçulmana, cada zona era ocupada e administrada por uma guarnição oriunda de uma das inúmeras regiões que então formavam o Califado. Beja teve guarnições egípcias e outras cidades tiveram guarnições sírias, mesopotâmicas, marroquinas, etc. E, é claro que, quando o domínio muçulmano caía numa região não desapareciam todos os seus membros. Muitos cá ficaram contribuindo para esta rica mistura tipológica de que os Portugueses são feitos.

Na empresa onde passei a maior parte da vida, deparei certa vez com dois colegas que eram dois acabados exemplares dessa variedade tipológica de que tenho estado a falar. Um era baixo, largo e moreno, o outro era bem alto e muito magro. Como figuras físicas, poderiam bem servir para actores dum Dom Quixote de la Mancha com seu criado Sancho Pança.
Deparando com este duo a conversar, o saber que eram ambos alentejanos acentuou em mim a estranheza por tão grande dissemelhança. Tendo muita confiança com eles, provoquei:

- Eu sei que vocês são ambos alentejanos, mas são de invasões diferentes, não?

Eu creio que o facto de não ter feito uma introdução sócio-histórica, como tentei fazer neste post, terá contribuído para o fraco êxito da minha piada junto dos meus colegas!

Comments:
Companheiro:
Não creio que algum desses fosse este, mas sempre aqui fica a referência:
http://www.photoblog.net/photoblog.php?nickname=jc2&action=view&id=1861291
 
De todos os que por cá passaram e deixaram mais gentes na nossa terra, foram sem dúvida os Vandalos, quando iam a caminho do Norte de África
Um abraço, Augusto
 
Devem ter sido, Augusto, a avaliar pelo comportamento dos descendentes...
 
Meu amigo, uma fantástica dedução, sem duvida, mas quem poderia estar preparado para a sua capacidade espectacuar de observação/dedução, sem a tal introdução sócio-histórica?
Parabéns pelos váriadissimos "despertar" que provoca dentro de cada um de nós que o visitamos.
Tinha saudades deste espaço.
Estive uns tempos sem voar, mas agora a força é outra e serei mais presente.
Até breve, no jantar que nos unirá com tanta alegria.
Deixo-lhe o meu abraço com amizade.
 
Obrigado Pássaro, pelas suas palavras que visivelmente não mereço. Fico satisfeito que tenha voltado aos voos bloguísticos. Um abraço. Até breve!
 
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10.1.07

Hoje li 


A poucos dias do choque militar de Alcácer-Quibir, Abdelmaleque, rei mouro de Marrocos, terá enviado ao atacante, D. Sebastião, a seguinte missiva:

«Vós buscais-me sem razão e quereis comigo guerra injusta, que a Deus não apraz, nem é disso contente nem servido. Sabei que isto há-de custar mais vidas do que pode caber de grãos de mostarda num grande saco…»

A ameaça profética faz lembrar as palavras de Saddam – «Esta é a mãe de todas as batalhas!» – e o mortífero resultado, só no Iraque, ultrapassa já Alcácer-Quibir em muitos sacos.

Abdelmaleque morreu ainda antes da batalha mas ninguém contesta que o invasor foi derrotado e expulso.

9.1.07

Best of... Janeiro de 2006 


História do grego Onanágoras

Por volta do ano 400 a.C., vivia, na antiga Grécia, um pobre homem de nome Onanágoras. Habitava sozinho num monte pedregoso, batido pelo vento. Alimentava-se de nabos e mel, e figos no tempo deles. Apesar da enorme pobreza e solidão, viveu relativamente feliz por muitos anos.

Até que lhe sobreveio uma crise de meia-idade. Começou a andar cabisbaixo, sorumbático e sem vontade de ir aos figos. Ao fim de algum tempo, resolveu fazer uma peregrinação a Delfos para consultar a divindade sobre o seu problema. Meteu um saco de nabos e um pote de mel numa cesta e pôs-se a caminho. Ao fim de alguns dias chegou a Delfos, purificou-se e fez as suas oferendas ao deus Apolo, na pessoa da Pitonisa. E expôs o que o entristecia:

- Ó brilhante Apolo, há muitos anos que vivo só, num monte pedregoso. Tenho apenas por companheira a minha mão direita com a qual tenho mantido uma relação fiel e gratificante. É ela a minha esposa. Com ela tenho vivido feliz nestes últimos 40 anos. Mas, ultimamente, tenho sentido apelos perturbadores. Apetece-me mudar, conhecer mundo, variar. O que é que hei-de fazer?

A Pitonisa olhou para o saco de nabos e para o pote de mel que o pobre grego trouxera, entrou em êxtase e depois de revirar os olhos declarou:

- Toma para ti uma concubina!
- Como, se não tenho senão uma leira de nabos, uma colmeia e uma figueira?


Embora não costumasse pormenorizar muito os seus oráculos, desta vez a pitonisa condescendeu em especificar:

- Toma como concubina a tua mão esquerda!

Onanágoras agradeceu o conselho e voltou para o seu monte pedregoso. E viveu feliz por mais 25 anos.

Comments:
É iso, mumar de mão também pode ser mudar de vida.
Vê se levas qualquer coisa para dizeres, a noite fica mais gira.
Um abraço. Augusto
 
Estamos a perceber uams coisas disto. Tb já pus o anúncio do jantar!
Até lá! Beijos
 
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7.1.07

Babel 


Há dias fui ver o filme Babel. Foi o melhor filme que vi em 2006. Mais, já não via um filme tão bom há vários anos. As 3 histórias interligadas revelam-nos amostras representativas da diversidade humana e cultural das sociedades mundiais. A narrativa não segue uma sequência cronológica, mas as peças temporais vão-se encaixando com facilidade.

Os acontecimentos desenrolam-se sem grande controlo dos intervenientes, que encaram essa ausência de controlo com angústia e alguma sabedoria. A cena da mexicana no deserto é das cenas mais angustiantes de que me lembro em cinema.

Os americanos tentam exercer controlo mas, claramente, não entendem o mundo nem as pessoas que vivem nele. Por isso sentem medo e se rodeiam de muros. Exercem instintivamente repressão pela força e humilhação pelo dinheiro em cujas virtudes acreditam como solução dos males do mundo. O que nem sempre ou nunca é o mais importante para as pessoas.

É um filme que nos faz sentir pequenos e um pouco perdidos na imensa Babel que o mundo é.

Grande filme!

Comments:
enforquem-no devagarinho... ou não...
 
Parabéns este blogue, aínda não conhecia. Gosto do seu trabalho... força!
 
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5.1.07

Uma agradável excepção 


Na Gulbenkian, por baixo do Museu, junto à Biblioteca de Arte, está a exposição de Gravuras e Pinturas Japonesas «Mundos de Sonho», só até 7 de Janeiro.

(pormenor)

Além da beleza das obras expostas, acrescente-se a interessante revelação das várias fases pelas quais passou uma gravura em madeira, destas.

Mas do que eu quero falar é que aqui a legenda funciona como complemento de informação à obra exposta pela explicação de processos, pela chamada de atenção para aspectos da peça ou pela descrição da história ou da tradição que lhe deu origem. Cada peça tem a sua legenda junto a ela, suficientemente detalhada para elucidar o visitante sobre os aspectos principais da peça e suficientemente sucinta para que não se torne fastidiosa. E tudo isto a uma altura confortável de 1,50 metros na borda superior da legenda.

Ora ainda bem que há quem tenha em atenção o visitante real em vez de espalhar legendas de forma anárquica, sem utilidade prática e que antes generalizam a confusão e o mal-estar. Que esses semeadores de legendas que por aí pululam venham aqui pôr os olhos e aprender alguma coisa.

4.1.07

O Porto também foi atingido 

Não há dúvida, tenho que me submeter.

Também a grande exposição «Anos 80», em Serralves até 25 de Março está atacada pelos autocratas das legendas. Veja-se, à esquerda (indicada por uma seta), a legenda assustada a esconder-se no canto para que ninguém possa suspeitar que se refere à distante pintura à direita.

Parece que a legenda é encarada como uma obrigação contratual que tem que se cumprir mas para a qual não se encontra qualquer utilidade, pelo que se aplica na mesma sala onde a obra se encontra mas tão longe quanto possível dela, para que não a conspurque, não a racionalize, não a espartilhe na ditadura do nexo e do sentido tão perigoso para a arte contemporânea.

Aqui, veja-se como se apresentam as legendas de 11 obras dispostas linearmente. Como obrigação contratual é, provavelmente, inatacável. Como serviço ao visitante, um défice.

Não há dúvida, tantas grandes exposições em tantas grandes galerias não podem estar todas enganadas e só eu certo. Sou eu que estou enganado, pronto!

3.1.07

O caso começa a ser preocupante 

(Ver posts de 20/11/06 e 27/11/06)

Não sei, realmente, o que se passa com as legendas das obras nas exposições de pintura. Na exposição de Graça Morais, na Cordoaria Nacional até 14 de Janeiro, veja-se esta distância entre a legenda, envergonhada a um canto, (indicada pela seta), e a obra mais à esquerda. São cerca de 8,5 metros. Custava muito pôr as legendas junto das obras?

Por outro lado, nesta exposição, constatei que, com legendas à direita, é possível encontrar conjuntos de obras cuja obra mais à esquerda corresponde à legenda de cima e pelo menos um conjunto de obras cuja obra mais à esquerda corresponde à legenda de baixo.
Depois de constatar isso, tive que, esforçadamente, passar a associar legenda, pelas dimensões nela expressas, à obra, pelas dimensões aparentes que o meu «olhómetro» avaliava.

Não havia necessidade de obrigar o visitante a este esforço!

2.1.07

Paz para os pacíficos 


Vivemos num mundo injusto. A quase totalidade dos Homens vive limitada à aspiração à justiça. No nosso próprio país, vemos os processos nascer e morrer sem resultados. A nível global vemos o paradigma da injustiça no ataque dos Estados Unidos ao Iraque, destruindo-lhe as estruturas políticas, económicas e sociais e matando-lhe centenas de milhar de cidadãos. O agressor só perdeu 3000 soldados, até agora, e nem um vidro partido no seu território. Daqui a dezenas de anos, os nossos descendentes vão-se perguntar como foi possível.

Neste início de ano, em relação a este paradigma do mal, desejo:
- que o agressor seja, finalmente, expulso do território iraquiano.
- que o primeiro responsável desta injustiça indizível seja, finalmente, destituído, preso e julgado.
- que a próxima guerra que os Estados Unidos vão desencadear (é da sua natureza), se desenrole dentro do seu território.

Para os pacíficos, paz e justiça, finalmente.

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Perdidos no Hiper-Espaço:

Em quarentena (Vírus linka-deslinka):

Desembarcados num Mundo Hospitaleiro:

Pára-arranca:

Sinais de Rádio do Espaço Cósmico:

Tele-transportes:

Exposição Temporária:


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